TI em Portugal (Parte 1)

Micael Estrázulas Vianna
5 min readMar 30, 2021

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Bom, se chegaste até aqui, acredito que tenha interesse em trabalhar no mercado de IT em Portugal. Você tem idéia de tudo que envolve essa mudança? (parte 2 do artigo)

Primeiro, o objetivo é falar um pouco da experiência que tenho tido no mercado, algumas dicas para imigração, alguns perrengues e cuidados que quem já está por aqui certamente já passou.

Segundo: Acho que isso vai ser uma série, então hoje vou abordar a questão da decisão de morar fora e o processo de entrevistas. Depois vou abordar a experiência de chegada, as impressões do mercado, assédio moral, assédio de outras empresas, qualidade de vida e o que achar que vale a pena.

Terceiro, me apresento: Trabalho com tecnologia desde 15 anos de idade, tenho mais de 20 anos de experiência com desenvolvimento, atualmente trabalhando com Java, Spring, Oracle, Microservices e mais um monte de coisa cult bacaninha. Já fui gerente, analista, líder técnico, arquiteto, full stack, front end, mobile developer, enfim, já fiz coisa pra caramba aqui.

Então, por que Portugal?

Se desejas mudar de país, pesquise, pesquise, e pesquise. Se estás aqui a procura de respostas prontas, não acho que seja o seu momento certo de emigrar. Gaste tempo para ler e ver material, e não veja apenas coisas boas do local, saiba dos problemas e das dificuldades.

Sempre cogitei morar fora do país, inclusive estive em vias de ir para a Austrália, mas meu sonho sempre foi o velho continente, principalmente Portugal. Mesmo idioma (apesar da língua ser bem diferente), cultura parecida (no RS há muita cultura Portuguesa), custo de vida mais baixo para quem vem de um país de terceiro mundo, facilidade de conseguir visto/trabalho, belezas naturais, história... Portugal é um país incrível.

Antes de decidir, me demitir e aceitar uma proposta, pesquisei sobre os hábitos, choque cultural, fiz simulações de compras em supermercados online, li sobre arrendamento de quartos/apartamentos (tema de um próximo texto), dificuldades de adaptação, enfim, a internet tem MUITO material sobre isso e sobre planejamento comento um ensinamento que mochilões me ensinaram:

Ao viajar, tudo o que planeou e ocorrer será economia e menos dor de cabeça. Imprevistos acontecem e os que não estiverem planeados só são resolvidos com dinheiro.

O Euro pra quem ganha em Real custa caro, aqui precisamos de reserva financeira, lembre-se: você não tem crédito, você está a renascer.

Conheço gente que desembarcou aqui com mulher e filho, sem conhecer nada, sem saber onde ia morar. Resultado? Alugou um Airbnb por € 1300 euros durante 20 dias e no desespero arrendou um apartamento por € 900 mensais (com salário de € 1300 coube torrar as reservas financeiras e ficar trazendo dinheiro do Brasil pra cá). Minha sugestão: Deixa o conjuge no Brasil por algumas semanas, organiza a vida, procura apartamento com calma, prepara o conforto, receba bem quem você quer bem.

Se por exemplo chegas cá e não sabes o que é um PB4 e precisas de atendimento hospitalar, prepare-se para arcar com isso. Pelo menos € 300 euros uma consulta particular, então, PLANEIE. Leia sobre saúde, segurança social, transportes, moradia, alimentação.

A Decisão

Foram 2 anos para decidir pedir demissão na empresa, a primeira coisa foi pesquisar sobre o processo de visto, documentos necessários, preparar tudo. Pedi demissão antes de ter proposta, pois queria um tempo de descanso (que se mostrou maior que o necessário — meu visto demorou 4 meses para ser aceito, e isso que não deu problemas, tenho conhecidos que demoraram 6 meses).

Então vamos lá: Renovei meu passaporte, apostilei (se não sabe o que é isso está na hora de começar a pesquisar) outros tantos, comecei a juntar dinheiro (sim, você vai precisar muito disso), assistia TV portuguesa para captar o idioma, pesquisei custo de vida (simule compras nos supermercados online, pesquise preço de alugueis, transportes… Tenha noção dos salários em Portugal (o Teamlyzer tem uma ferramenta que ajuda a ter criterio e não ser um sem noção , mas lembre-se, você vem de outro país. Eles sabem que você quer sair daí de qualquer forma, então não espere receber o mesmo que alguém que já cá está).

Então, depois de alguns meses, tomei coragem e pedi para me demitirem. Fiz um acordo com a empresa e depois de 51 dias de aviso prévio estava livre. Comecei então a participar de processos seletivos…

Entrevistas e mais entrevistas

No início enviava diversos currículos pelo Linkedin (sim, aqui é muito usado) e não recebia retorno, procurava normalmente vagas em cliente final, tentava fugir do outsourcing, mas se você não tem documentação, provavelmente virá por uma consultora (empresas de outsourcing). Outra questão é: faça seu currículo no padrão Europass (mesmo que depois tenha de preencher o currículo no padrão da empresa que vai te entrevistar).

Busquei por empresas que estavam no programa Techvisa. O Techvisa é um tipo de visto específico para profissionais altamente qualificados, então as empresas que estão neste programa recebem incentivos para trazer profissionais de fora, contam com “agilidade” no processo de vistos e possuem regras (um salário mínimo — que também é a média inicial — para este tipo de vaga, acho que em torno de € 1335).

Então, comecei a participar de entrevistas, foram muitas, e prepare-se: o processo de contratação costuma ser lento e cheio de fases. E sim, as entrevistas acontecem em horário local de Portugal, então tive diversas entrevistas as 4 da manhã. Outra coisa importante, treine seu inglês. Normalmente são questões simples, mas o inglês é muito importante e nós brasileiros por norma, não temos prática do idioma.

Normalmente os processos são 4 passos:

  1. Recruiter (bate papo para saber seu perfil)
  2. Técnica (possibilidade de aplicação de teste)
  3. Business Manager (entrevista um pouco menos técnica, explicação da empresa, idiomas, etc)
  4. Apresentação de proposta
Minha agenda de Abril de 2019, estava a 2 semanas buscando vagas pelo LinkedIn (horário está no fuso CET)

A questão da proposta pode conter algumas questões que devem ser levadas em conta:

Existem dois tipo de contratação, contrato sem termo, é como se fosse CLT e vens com o visto D3 e recibos verdes, que é como se fosse o PJ do Brasil e virá com visto de empreendedor, o D2. Normalmente o recibo verde atrai, tens um salário liquido maior, mas tens de ficar atento pois há impostos a serem pago, há descontos no IRS no primeiro e mais detalhes que não sei, então, vale a pena falar com um contador.

Outra cena MUITO importante, as empresas normalmente patrocinam o seu processo de visto. Eles contratam uma empresa para cuidar da tua documentação. Normalmente o que eles fazem é realizar os agendamentos, te acompanhar na legalização aqui, e, nada é de graça. Então eles colocam no contrato de trabalho uma cláusula de permanência, no meu caso foi de 12 meses, caso saia antes (o mercado é muito tentador), tens de pagar uma multa. No entanto, CUIDE, há empresas que colocam cláusulas de 24 meses com multas de € 10.000. Possivelmente ilegal, mas, se a empresa tenta te sacanear antes de assinar o contrato, imagine depois, então, 👀 .

Bom malta, semana que vem coloco a continuação deste artigo. Qualquer coisa, deixa um comentário :)

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Micael Estrázulas Vianna

Software engineer, working with Java, Spring and many cool things